Olho Clínico


quarta-feira, julho 06, 2011
  Palavras da meia-noite

O passado é como uma fotografia velha em movimento. Olhamos, e se nos demorarmos o tempo suficiente conseguimos mais. Conseguimos ouvir, cheirar, sentir o calor dos momentos.

E demoramo-nos no passado, e demoramo-nos no presente. Ah, mas são tão diferentes. O amor não pode ser reciclado, o amor não existe sozinho. Existe o peso no peito, o calor na barriga, aquele desejo de felicidade para quem se gosta. Mas o amor é outro, a cor é outra, o som é outro.

Mas tudo é mais triste para ser menos triste. Tudo é menos livre para ser mais livre. A ingenuidade ficou retida na fotografia, a inocência está lá atrás e não volta porque somos mais rápidos. E o amor é tão diferente. Mais seguro e menos louco, mais táctil e menos sussurrado. E é tão bom assim.

Mas e a loucura? E o sussurro? Como pode haver rasgo se há quotidiano? Como pode haver sofreguidão se não há saudade? É ele que nos move, mais rápido mas menos potente. Menos impulsivo mas mais permanente. Equilibrado e plano. Mas e o pico e a depressão?

O meu peito estranha a superfície, a planície constante com pequenos montes. E se for preciso fugir? E se for preciso enlouquecer?

Que lindo. Que linda.

É o coração que sempre nos guia.
 



quinta-feira, abril 22, 2010
  Milão.

Um sentimento escondido, por detrás do vidro. Um arremedo de amor, uma paixão hesitante, uma fria loucura. O calor num corpo, a luz numa cidade, o sorriso numa vida. E agora o regresso ao familiar peso, horror de si despegado.

Vai-te embora, ganha coragem e rasga. Parte, pára, fode, foge. Foda-se. E agora?

O tempo divide-se em momentos, às vezes é tão claro que fascina. O tempo pára dentro de cada momento. E entre momento corre como se o fogo o perseguisse. E às vezes queremos ficar num momento, porque o próximo não o conterá. E esse momento será sonho, memória, lembrança, recordação.

Reedição?
 



quarta-feira, dezembro 30, 2009
  Diário de um rumo sem trajecto

As repetições. Ler palavras antigas, deparar-me com a história. A vergonha típica e habitual neste rito.

A vida passa e acontece, e o nosso mundo - que é apenas o nosso mundo - passa e acontece connosco. O amor, aquele, o definitivo, o último, o da vida. A mais pura das certezas.

Somos seres estranhos, nós. Somos corpos com gente dentro, um emaranhado de fios e líquidos que se embaraçam uns nos outros. E a vida pode tornar-nos mais cínicos, mais tristes, mais optimistas, mais confiantes. Ou podemos apenas manter-nos como sempre.

Olho para trás, para o que foi há muito e para o que foi há pouco, e na essência sou o mesmo. Quero o mesmo. A forma muda - é isso que a vida nos faz, tal como aprendemos a escrever melhor ou a tocar melhor, aprendemos a fazer as coisas melhor - mas a Música é a mesma. O riso parvo e exposto já não é exposto mas ainda é parvo. A voz nervosa e irritante já não é irritante mas ainda é nervosa. A luz apagada ainda é uma insegurança, insegurança de ti.

E quem és tu? Quem és tu, massa incorpórea corpo sem rosto rosto sem corpo? Quem és tu, mulher na casa-de-banho, na praia, no cinema, na pista de dança, no camarim, à mesa do restaurante?

As repetições. A vergonha típica e habitual que sei que existirá quando estas palavras cruas e novas já não forem novas mais ainda forem cruas.
 



terça-feira, março 24, 2009
  Um fecho? Uma tampa? Um daquelas coisas de velcro?

Às vezes, assim bem de repente e sem aviso, ei-la no meu peito. Acompanhada. Quando tudo parece bem sinto de novo aquele aperto interior, aquela força que me puxa os olhos para baixo. Não está só. Às vezes, assim bem de repente, a saudade aperta tão forte que me sufoca. E sem aviso traz a tristeza, companheira suposta mas sempre inesperada. E são estes momentos que me deixam à beira do desespero, em que te perdoaria tudo e voltaria a tentar uma vez mais. E faço um esforço hercúleo para não te ligar ou escrever. Foda-se, às vezes sinto tanto a tua falta que o meu peito quase implode. De saudade. De tudo, do que fomos, do que não fomos, do real, do imaginado, não me interessa. Só queria um abraço sem tempo, um beijo sem espaço. É ele, é o coração o meu pior inimigo. Porque às vezes, assim bem de repente e sem aviso, solta uma gota antiga que pensava já não reconhecer. E aquele nosso abraço faz-me falta outra vez. Vai-te foder. 



quinta-feira, fevereiro 05, 2009
  Memórias de duas realidades paralelas

E assim mataste o nosso amor, de tal maneira que aquilo que um dia pensei que ia ter sempre comigo no meu peito desapareceu. E deixei de sentir, simplesmente.

Nos últimos dias, semanas, meses, nada via. Nem o bom nem o mau. E olhava para trás, para a nossa história, e só via fealdade. Só via mentira, distância, lágrimas, frustração, cobardia. E é essa a imagem e a memória que acabaste por deixar.

Até que hoje, num vulgar momento quotidiano, vieram-me à memória pequenos momentos. Intervalos no Tempo que tivemos. Muito curtos. Mas muito saborosos. E sorri ao aperceber-me que, no fim de todo este turbilhão em que te interpreto como uma pessoa muito menor que a pessoa da realidade que construiste para mim, ficaste gravada em mim com laivos de doçura e carinho.

Lembrei-me do Porto, sabes? Da felicidade do Porto. De estar contigo naquela cama ridícula, e tu levantares-te e, antes de te deitares, parares uns momentos a olhar para mim antes de te fundires comigo novamente. De eu tentar levantar-me sem te acordar e apoiar-me no teu livro que tombou toda a tua mesinha de cabeceira, e te sussurrar "dorme" depois do estrondo todo. Lembrei-me dos nossos risos enquanto a Lili passava pela porta. Lembrei-me de quando tudo era tão simples e tão bom, e eu vinha do Porto com um sorriso nos lábios que não me largava dias a fio.

E isso deixou-me contente. Saber que neste ano houve pelo menos um punhado de momentos em que ambos fomos verdadeiros. Saber que houve momentos em que fomos puros, em que simplesmente... fomos.

Saber sobretudo que há algo de positivo, por pouco que seja, a equilibrar a desilusão que senti quando o pano caíu e vi quem realmente és.

E é assim a vida. A nós resta-nos aprender com os erros (a mim, e a ti), e fazer o melhor possível daqui para a frente.

Be happy. 



segunda-feira, janeiro 26, 2009
  Vã despedida de um cimento inexistente.

Sabes, não te percebo. Não percebo porque não lutas. E, se não lutas, não percebo porque chegámos até aqui. Não percebo como te consideras feliz assim. E, se o és, não percebo porque mantiveste isto.

O que era eu para ti? Apenas um ouvinte, um confidente, um porto de abrigo, um encosto, um amparo? Só isso? Porque não dançaste tu comigo? Porque não me deixaste entrar na tua vida? Porque não me deste tudo o que me falaste em dar? Porque não concretizaste? Não percebo. Quero perceber, mas não percebo.

E o mais triste? É eu saber e agir da melhor maneira, e esperar pelo teu passo. E saber que, se o deres, eu não te vou resistir. Sacrificando-me uma vez mais.

Mas, paradoxo ou não, encontro na tua falha a segurança do que é melhor para mim. Sei que, como sempre, não vou estar no fim do teu caminho - porque tu tomas sempre outro, ultrapassando-me por outro lado. E assim não vou ter de tentar resistir, porque não vai haver tentação.

É só triste, tão triste. Saber que fui o homem mais feliz do mundo, e que - sem que nada se alterasse - tudo se alterou. E foi essa a razão. As coisas alteravam-se sem que nada se alterasse. E não as coisas não são assim. E simplesmente acabou como toda a vida foi. Distante, ignorante, um pequeno portal entre as nossas vidas tão paralelas que nunca se tocavam.

E agora? Agora é esperar que o Tempo me dilua este conflito entre o meu proverbial optimismo e vontade de seguir em frente e aquele quase inexistente e muito escondido sentimento de tristeza e de vontade em não largar.

Mas a culpa é tua, é tua. Só tua! Ou é minha por não ter percebido ou assumido o quão desequilibrado tudo era? A culpa é minha por ter dado tudo o que tenho? Ah, mas se tu sabes que eu não sou feito para esses jogos! Eras tu, eras tu a mulher da minha vida. Foste tu quem aqueceu por dentro como nunca me tinha sentido. A culpa é tua! Tua pela reciprocidade, tua pelas palavras, tua pelas acções. A culpa é tua pela mentira. É tua, por me desperdiçares. A culpa é tua por não me amares.

E essa é a verdade que me entristece e enaltece o já familiar sentimento de impotência. Está fora do meu controlo. Tudo. Não te ver, não te ter, não me amares. E foi um ano assimétrico, entre o mais que conseguíamos e os mínimos olímpicos. E eu sei que há algo ainda que não me contas. Mas também sei que nem sei se quero saber.

Mas sinto-me perdido. Sinto-me a viajar entre o riso descontrolado e a lágrima eminente. Como pudeste? Porque não foste tu a acabar com tudo? Porque não me deste um motivo para te odiar? Um motivo para eu me agarrar e poder resolver tudo com ele? Porque me deixaste simplesmente fazê-lo, tendo apenas a tua falta de amor como facto? Porque tiveste de dificultar tudo?

Porra, o amor é cego. E eu cego fui. Mas presumo que a vida seja uma gigantesca lição, e há que retirar que não se pode dar tudo, que o nosso íntimo tem de estar sempre minimamente resguardado.

Mas não quero isso, é feio. Quero poder estar contigo como estou comigo. Quero poder estar contigo e estar a cagar-me para tudo à nossa volta. Porque tu eras a minha vida e o meu mundo. E disseste que me amavas, e que davas a tua vida por mim. Mas nada da tua vida deste a mim. E eu segui agarrado a palavras, e tons de voz, a músicas sussurradas, a Caetano. E outra e outra e outra vez o meu corpo não encontrava o teu. E aquele arrepio, aquele tensão à flor da pele, aquela sensação de quase dor pela distância, aquela tesão, aquela excitação. Tudo isso desapareceu. E sempre te justifiquei mais para mim do que tu.

Como pude? Era assim tão cego? É esta a maneira de estar no amor? Sempre com alguns tabus? Barreiras? Pensamentos martelantes?

Paciência. A vida segue. Poderia seguir contigo, tal como poderia ter vindo até aqui contigo. Mas não veio. Por nossa culpa.

Quero-te feliz. Mas quero-me feliz. Adeus, menina linda, ter-te-ei sempre no meu coração. 



sábado, janeiro 24, 2009
  Amor como Comédia

O Presente é uma prova inequívoca. Quando te aperceberes de que a vida é demasiado curta e que não podemos despachar o menos importante antes do mais importante, vai ser demasiado tarde. Para nós será.

O Presente é uma prova inequívoca. Amo-te e largaria o que estou a fazer para estar contigo. Mas amanhã não será assim. O timing é tudo, e a vida não pode ser uma espera eterna. Mas sei que não me vais surpreender.

Quem me dera estar errado. 

O Mundo visto do topo. Do Olimpo.

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